Fides propõe uma alternativa à necessidade de estratégias e intervenções de anticorrupção que enfatizem a mudança de valores e normas culturais.

Desde a década dos anos noventa, a luta contra a corrupção tem sido tema prioritário na agenda global. Aos níveis internacional, nacional e local têm-se implementado numerosas medidas e ações para combater este flagelo social. Não obstante, depois de más de duas décadas de reformas de anticorrupção e a investimento de bilhões de dólares em assistência de organizações internacionais, os resultados deixam muito para desejar. O “câncer” da corrupção persiste e, mais ainda, se intensifica em alguns países.
As reformas anticorrupção implementadas têm tido um impacto muito limitado a as percepções da gente sobre a corrupção têm sofrido poucas mudanças, particularmente nas sociedades onde a corrupção é endêmica y está profundamente arraigada na cultura. A maioria dos países são tão corruptos hoje como eram antes de iniciadas as reformas anticorrupção.
As reformas de anticorrupção respondem principalmente a um enfoque “externo-interno,” de “fora para dentro.”
Estas reformas estão centradas primariamente nas instituições formais de um país y buscam mudar os comportamentos sociais mediante normas legais y políticas públicas, novas organizações e mecanismos de fiscalização. Enquanto enfatizam o controle, o monitoramento e a sanção formal, não contribuem efetivamente a construir as bases culturais da integridade pública.
A integridade na vida pública não depende somente de estruturas institucionais adequadas senão, em formas mais significativas, de valores e códigos sociais de conduta que a sustentem. Como aponta um observador africano, “a cultura é a mãe, as instituições são os filhos.” Num grão número de sociedades, os valores e as normas sociais de integridade pública são muito frágeis e deficientes. Em geral, as pessoas crescem em entornos sociais cujos códigos de conduta promovem o favoritismo e a falta de respeito à lei. O suborno é uma prática diária e o mostrar favoritismo para os que têm conexões pessoais ou políticas, embora implique uma injustiça e violação da norma, é aceito e legitimado socialmente.
Atento a que os valores e normas culturais se relacionam diretamente com a corrupção, é preciso priorizar aquelas estratégias e intervenções cujo objetivo direto e imediato é a formação de valores e a mudança cultural.
A fé cristã é uma fonte primária de valores e códigos de conduta em muitas sociedades que padecem de corrupção endêmica. Isto implica que a mesma seja um agente e motivador clave de transformação social. A comunidade internacional não somente tem marginado os aspectos culturais da corrupção, senão também tem desatendido o papel potencial de líderes y grupos religiosos na luta contra a mesma. Em muitos países, a fé cristã poderia ser um elemento fundamental da integridade pública, não somente em termos de instituições, senão da formação de valores que influem e orientam a vida cívica y social. A igreja é chamada a ser “sal e luz.”
Contudo, ativar o potencial da igreja demandará mudanças profundas dentro de seu seio.
Muitos crentes imitam os mesmos códigos sociais de desonestidade pública presentes em sus sociedades, e totalmente contrários aos princípios bíblicos. Em efeito, a maioria dos países em desenvolvimento com maiorias declaradas de cristãos, tanto na América Latina, na África, na Ásia e no Pacífico, exibem níveis altos de corrupção. Da mesma forma, muitos líderes e igrejas se mantêm alheios e não se comprometem com esforços cívicos por melhorar os problemas políticos e sociais de suas comunidades.
OECD, Development aid rises again in 2016 but flows to poorest countries dip, 2017, http://www.oecd.org/dac/
development-aid-rises-again-in-2016-but-flows-to-poorest-countries-dip.htm
Daniel Kaufmann, “Myths and Realities of Governance and Corruption,” Global Competitiveness Report 2005-2006,
World Economic Forum, 2005, http://siteresources.worldbank.org/INTWBIGOVANTCOR/Resources/2-1_Governance_
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